Normalmente as entrevistas são realizadas com os artistas e bandas, e dificilmente ouvimos as histórias do outro lado, em um trabalho tão importante quanto. O produtor musical, as vezes esquecido, é tão responsável quanto um compositor para gerar o resultado mais favorável possível em uma gravação. Dito isso, dessa vez entrevistei o produtor Augustto Queiroz, que tem boas histórias e dicas para quem quer se aventurar no outro lado da música.

Vicente – Conte-nos como surgiu a ideia de se tornar um produtor musical

Augustto Queiroz – Meu pai é músico profissional, cresci vendo-o tocar com a sua banda nos ensaios que aconteciam na minha casa. Passei a estudar piano no início da minha adolescência e de lá pra cá, tudo foi acontecendo meio que naturalmente.

Vicente – Você já teve a oportunidade de trabalhar com vários gêneros musicais. Tem algum que seja mais fácil ou difícil de produzir?

Augustto Queiroz – O que torna um trabalho mais fácil ou mais difícil não é necessariamente o gênero musical, cada um tem suas particularidades, é preciso entendê-las para se ter um bom resultado. O que realmente faz um trabalho ser difícil são as pessoas envolvidas.

Vicente – Quais as principais virtudes que acredita que um bom produtor precisa ter?

Augustto Queiroz – A principal virtude é saber ouvir, e não me refiro a ter um bom ouvido musical, e sim, a saber ouvir o que as pessoas tem a dizer sobre o trabalho. Toda opinião, por mais simples que seja, pode ser útil e contribuir com o projeto final. Além disso, também é fundamental ser educado, ter compromisso, cumprir com os prazos, ser minucioso, detalhista e proativo.

Vicente – Sem citar nomes, obviamente, mas já teve alguma banda ou artista que foi difícil de produzir, por interferência ou outro fator?

Augustto Queiroz – Já tive alguns problemas sim, tanto com artistas quanto com bandas. Na maioria das vezes o problema decorre da falta de profissionalismo ou do egocentrismo.

Vicente – Você não trabalhou muito com Metal, mas teve a oportunidade de produzir o Power Reset do Leonardo Oliveira. Conte-nos como foi essa experiência.

Augustto Queiroz – A experiência foi incrível, primeiro por poder lidar com uma pessoa que tem uma competência musical incrível, além de um ouvido muito “afiado” para identificar detalhes muito específicos no som, o que me forçava a chegar em um resultado cada vez melhor, mas também, por ter sido o meu primeiro trabalho com esse gênero musical, tive que me adaptar rapidamente, entender as características sonoras desse gênero musical, se tornando assim, um desafio enorme.

Vicente- Por ser um trabalho de uma pessoa só, acredita que tenha sido mais fácil o trabalho?

Augustto Queiroz – Não acho que o trabalho possa ter sido mais fácil por esse motivo. Quando o trabalho é feito com profissionalismo e dedicação, uma quantidade maior de pessoas envolvidas tende a ajudar mais do que atrapalhar.

Vicente – Qual seria a banda ou artista que seria um sonho produzir?

Augustto Queiroz – Essa é fácil. Teria sido um sonho trabalhar com o Pink Floyd.

Vicente – Por fim, deixe um recado para todos que admiram seu trabalho e queiram aprender mais sobre a arte de produzir música.

Augustto Queiroz – Sempre que alguém me pede para deixar um recado sobre o meu trabalho, eu costumo dizer duas coisas. Não é você quem escolhe trabalhar com música, é ela quem escolhe você. Trabalhar com música, para mim, é como se todos os dias fosse feriado, eu nunca acho que estou trabalhando.

Música é arte, mas também é muita dedicação. Como tudo na vida, para ser bem sucedido na música é necessário correr muito atrás, sempre com muita honestidade e caráter. Mas pode ter certeza que o caminho será tão prazeroso quanto o destino.